No drama musical Parsifal,
de Wagner, Kundry oscila entre Titurel e Klingsor, entre o ascetismo, a pureza
dos cavaleiros do Graal, e a atração de cavaleiros andantes à perdição do
Jardim das Delícias.
Esta temática não deixa de ser ressuscitada no drama
neo-realista de Luchino Visconti Rocco
e seus irmãos [Rocco e
i sui fratelli –ITA, 1960],
no qual a prostituta Nadia (Annie Girardot), depois de arrastar à perdição
Simone (Renato Salvatore), busca junto ao irmão deste, o “tolo inocente” Rocco
(Alain Delon), o caminho para a redenção de sua alma – a oscilação entre o
caminho “fácil” do hedonismo ou o difícil da “redenção”-.
Claro que existe uma diferença de premissas entre Visconti e
Wagner, sobretudo pelas épocas em que viveram, as artes que cultivaram (se bem
que, se Wagner tivesse chegado a ser contemporâneo dos experimentos dos
Lumière, com sua obsessão pela obra de arte total, sem dúvida se teria rendido,
como sugeriu o cineasta alemão Syberberg, aos encantos do cinema, e Visconti,
por seu turno, tenha utilizado peças de Wagner - principalmente do Tannhäuser e de Tristão
e Isolda- como trilha sonora de seu filme sobre o mecenas deste,Ludwig),
a respectiva formação etc.
Enquanto Wagner escreve seus libretos e compõe sua música em
busca do Sagrado, Visconti, pelo contrário, compõe seu filme, acompanhado pela
trilha sonora de Nino Rota (que, mais tarde, ao compor a trilha sonora de Morte
sobre o Nilo, prestaria uma homenagem ao Mago de Bayreuth, com direito,
inclusive, a uma citação daCavalgada das Valquírias), olhando para a
realidade a ele contemporânea, das desigualdades existentes entre as regiões
Sul e Norte da Itália, das fragilidades do ser humano comum buscando sobreviver
num mundo onde a regra principal é não ser esmagado por aqueles que disputam
com ele o direito de ocuparem tal ou qual espaço.
A questão das divisões sociais, fortíssima na película de
Visconti, está ausente no canto de cisne de Wagner, embora não o estejam as
questões do hedonismo em face do ascetismo, do egoísmo em face do altruísmo,
como um problema que vem a transcender a contingência da realidade capitalista,
como algo que aflige a humanidade desde tempos imemoriais.
Embora unidos pela mesma temática - o dualismo
"perdição/redenção","hedonismo/ascetismo" -, Wagner e
Visconti, aqui, não deixam de evocar a imagem central da “Escola de Atenas”, de
Rafael Sanzio: Wagner, tal qual Platão, aponta para os céus, enquanto Visconti,
tal qual Aristóteles, olha para o chão.
O dualismo que os une, ainda, não deixa de evocar a regra da
composição dos enredos na tragédia grega: a perdição seria o fruto de uma
transgressão arrogante, de uma falta de cuidado nascida de um excesso de
autoconfiança, enquanto a redenção proviria da autorrenúncia, da autonegação.
Também não deixa de ser um dado presente no pensamento budista,
da Dor como nascida do Desejo e eliminada justamente com a eliminação do
Desejo.
E a eliminação do Desejo trazida não como a respectiva
satisfação, mas sim como a efetiva renúncia à satisfação.
Renúncia, aqui, tida como uma manifestação irretratável, com
efeitos definitivos, não como uma mera abstenção passageira.
Embora o budismo esteja ausente na formação de Visconti, no testamento
lítero-musical de Wagner ele vem a ser bem presente, sendo certo que estava nos
planos do Mago de Bayreuth escrever um drama musical – do qual restaram somente
os esboços – sobre a vida de Siddartha Gautama, o Buddha, ao qual seria dado o
título O vencedor.
Parsifal redime a si próprio e também ao filho de Titurel quando
se identifica com o sofrimento deste e renuncia aos prazeres que lhe oferece
Kundry (a serviço de Klingsor) e, tendo recuperado a lança que ferira o peito
do Redentor, ao ser atacado no caminho de volta a Monsalvat, prefere ser ferido
a utilizá-la e deixar que seja conspurcada por sangue impuro.
Por outro lado, Kundry, ao contrário do que seria de se esperar
a partir de uma moral baseada na “recompensa plena para o Bem, castigo para o
Mal”, vem, antes, a ser redimida, evocando, num certo sentido, a passagem
bíblica em que o Redentor salva Maria de Magdala.
Com a mesma lança com que Klingsor ferira o peito de Amfortas
(que se tornara vulnerável por haver sucumbido à sedução de Kundry), Parsifal
vem a fechar-lhe a ferida, determinando, outrossim, que não mais o Graal fique
coberto.
Amfortas, pois, também vem a terminar os seus sofrimentos, sem
ser, pois, “castigado”.
Por outro lado, a distância da Divindade em face da Humanidade
vem a ser desfeita; não se torna mais algo desastroso para esta última, uma vez
que a causa que a separava d'Aquela, afinal, desapareceu: a busca de
auto-afirmação veio a ser substituída pela compreensão de que, com a eliminação
do Desejo, eliminar-se-ia a Dor.
Em suma, a renúncia, aqui, vem a ser o caminho do Humano em
direção ao Divino, é o caminho, pois, da superação das dificuldades, e a ideia
do perdão faz-se presente.
Rocco, outrossim, faz várias renúncias, embora todas elas tenham
um resultado desastroso: pacífico por índole, torna-se boxeador para sustentar
a família - que se mudara do Mezzogiorno para Milão, onde a mãe, a viúva
Rosaria (Katina Paxinou), esperava obter uma melhoria no nível de vida para si
e para os filhos -, já que seu irmão Simone, que exercia tal profissão, vem a
envolver-se com Nadia e entra em decadência.
Quando Nadia abandona Simone, Rocco, ao retornar do serviço
militar, vem a envolver-se com ela, conduzindo-a, inclusive, a abandonar a
antiga profissão, até o momento em que o irmão resolve retomá-la à força:
“Rocco é a encarnação dos ideais
da mãe e do pai ausente, buscando sempre manter todos em comunhão, junto com a
mãe, no espírito da migração; tentando fazer com que a família realize a missão
pela qual se pôs na estrada. É assim que se ajusta ao mundo urbano, movendo-se
nas diferentes atividades, inclusive no pugilismo, a despeito de não gostar.
Para garantir o clima da comunidade, engaja-se na sociedade, no labirinto
turbulento. E de repente se apaixona por Nadia, que descobre nele o amor e a
amizade, a transparência e a felicidade. Rocco tem algo de santo. Mantém uma
atividade compreensiva e empenha-se nela, concentrada na família, a comunidade
originária enraizada no cristianismo primordial. Tanto é assim que se deixa
brutalizar por Simone, para salvá-lo, inclusive fazendo com que Nadia volte
para ele, para salvá-lo; inclusive chorando desesperado com ele após o
assassinato de Nadia, para salvá-lo” [IANNI, Octavio. Uma longa viagem. Tempo
Social. São Paulo, v. 16, n. 1, p. 155, jun 2004]
Vendo na obsessão de Simone por Nadia a origem da degradação do
irmão, Rocco a ela renuncia, julgando que, com isto, poderá evitar o processo
de dissolução da unidade familiar: parece-lhe que, atendido o desejo de Simone
e aplacada a respectiva obsessão, tudo se modificaria para melhor.
O resultado é, antes, o acirramento da violência e da
degradação de Simone e o retorno de Nadia à prostituição, culminando em seu
assassinato por parte do ciumento amante.
É como se Klingsor, mesmo não conseguindo apoderar-se da alma de
Parsifal, atraísse Kundry e Amfortas definitivamente para si e, com a
destruição do Jardim das Delícias, marcada por uma transfiguração do tema com
que se manifestam as raparigas-flores quando Parsifal derrota os cavaleiros
enviados por Klingsor, o puro inocente perdesse o caminho de volta para
Monsalvat.
Quer dizer: ao contrário de Kundry, Nadia vem a ser
"castigada" por aquele cuja perdição causou, como se o Mal, tanto em
relação a ela quanto em relação a Simone, fosse uma inclinação inexorável.
Praticamente sugere o modo como Syberberg terminou sua adaptação
do Parsifal, em que
após a descoberta do Graal, pela última vez, em que o tolo inocente tornado
sábio pela compaixão - e, na visão do diretor alemão, cindido em um ator e uma
atriz adolescentes - abençoa aos integrantes da confraria de Monsalvat, após o
último acorde em la bemol maior, retorna a frase com que Kundry sucumbe à magia
de Klingsor: "Schlafe! Schlafe! Ich muss!"
Quer dizer: em tal visão, o destino inexorável da humanidade é,
por mais que aspire à superação do "Mal", é ficar em um pêndulo entre
este e o "Bem", e disto nem mesmo os mais piedosos podem
considerar-se livres.
Como se lê no texto da "Missa de Requiem", até os
justos se sentem apreensivos diante da perspectiva do Juízo Final, porque são
"justos" em razão de critérios puramente humanos, que podem não
coincidir necessariamente com os critérios "divinos".
Num certo sentido, a renúncia, em Rocco, adquire quase que um
sentido de “auto-mutilação”, como a que Klingsor perpetrou, em sua (frustrada)
aspiração pela pureza, e que o tornou, por isto mesmo, imune à magia de Kundry,
embora Rocco mesmo seja um puro como Parsifal: é por uma violência contra si
próprio que Rocco vem a precipitar a degradação que pretendia impedir.
Ciro, irmão mais jovem, que se vem a integrar ao universo dos
trabalhadores no setor industrial em Milão, verificando os fracassos de Rocco e
o ponto a que chegou a degradação de Simone, entrega este à polícia pelo
homicídio cometido, concluindo, em conversa com o mais novo dentre eles, que a
excessiva santidade de Rocco, perdoando a tudo e a todos, não seria para este
mundo.
Ciro é um homem que, integrado na força de trabalho industrial,
afirma os valores da sociedade em que está inserido e procura contribuir para o
que se entende que seja o "progresso" desta mesma sociedade, para a
contínua possibilidade de satisfação das necessidades dos indivíduos que a
integram.
A ideia que o move não é a de “redenção”, mas sim a de identificação
de “seu lugar no mundo”, a de “pertinência a um grupo social”: os méritos e
deméritos do ser humano vêm a ser aferidos a partir do meio em que vive e dos
valores dominantes nesse mesmo meio, justamente porque não é um bruto ou um
deus, mas sim um zoon politikon, na
acepção própria de Aristóteles.
Daí, não se o pode ter como alguém norteado pela
"renúncia", mas, pelo contrário, pela afirmação da vontade de viver,
sobrevivendo em um meio no qual a qualificação do "homem honesto e bem
sucedido" passa por uma ética do trabalho; é uma necessidade de sobreviver
e ocupar espaços cujo fundamento sequer pode ser colocado em discussão.
Resta, evidentemente, saber até que ponto a “pertinência a um
grupo”, ou melhor, a “construção da identidade a partir da pertinência a um
grupo” não se irá confundir com a dissolução em meio ao rebanho, a conversão em
mais uma dentre as cabeças do rebanho, a esperar que o “pastor” o guie para
onde a respectiva vontade apontar, ainda que seja para o abismo.
No universo de Dostoievsky, Parsifal estaria mais próximo do
Aliocha de Os irmãos
Karamazov, enquanto Rocco estaria mais próximo do Príncipe Michkin de O idiota, como foi
observado em dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal de Minas
Gerais:
“Rocco e seus irmãos (Rocco
e i suoi fratelli, 1960) conta a saga de
uma viúva, Rosaria Parondi (Katina Paxinou) e seus cinco filhos, Rocco (Alain Delon),
Simone (Renato Salvatori), Vincenzo (Spiros Focás), Ciro (Max Cartier) e Luca (Rocco
Vidolazzi), que saem da Lucania, na Sicília, para viver em Milão, uma grande cidade
industrial, em busca de novas oportunidades de trabalho. Cada um tenta seguir o
seu caminho, mas a degradação da família é contaminada por valores e costumes de
uma sociedade agressiva e rude. Inspirado em obras literárias, o filme une influências
de Thomas Mann, que recontou a história de José, filho de Jacó, em José e
seus irmãos; e de Dostoievski, em que as características do personagem principal,
Rocco, aproximam-se das inocências do príncipe Mishkin de O Idiota, do escritor russo”
[CARNEIRO, Ana Luíza Cavalcanti. Uma tradução cinematográfica: Noites
brancas, de Luchino Visconti. Belo Horizonte: Escola de Belas Artes
da Universidade Federal de Minas Gerais, 2009, p. 22 (dissertação de mestrado)].
Aliocha consegue, como Parsifal, salvar-se e, num certo sentido,
vem a ser uma espécie de agente catalisador da redenção de seu irmão Dimitri,
diversamente do que ocorre com Rocco, que é impotente para impedir a degradação
de Simone e a destruição de Nadia.
De qualquer sorte, nem Parsifal nem Rocco podem ser considerados
compatíveis com este mundo; são santos, são almas excessivamente elevadas para
seres que se movem a partir de interesses mais elementares e que sequer colocam
em questão a vida que eventualmente levem, até porque estes seres comuns, se
viessem a colocar em questão, provavelmente, perderiam todos os elos que formam
os grupos a que pertencem.
Claro, são personagens de ficção, mas nem por isto vão deixar de
prestar-se a auxiliar a compreensão do mundo real.
Este é o mundo no qual a necessidade de sobreviver e de ocupar
espaços não tem qualquer compatibilidade com a santidade.
A própria condição de um Parsifal cuja família é rarefeita (e,
no entanto, passa a ser familiar de toda a humanidade) e de um Rocco cuja
família é imensa, porém, com os laços tendentes a se esgarçarem (mesmo com todo
o empenho da matriarca, e do próprio Rocco, em sentido contrário), a partir dos
próprios embates com o mundo, rende ensejo a reflexão, acerca do papel que
podem desempenhar os valores que transcendam o egoísmo humano na vida em
sociedade.
Se a santidade, tanto para Visconti quanto para Wagner, não
teria lugar neste mundo, compreende-se, inclusive, como não se pode tratar como
farisaica a mensagem do testamento musical deste último, argumentando-se com o
seu modo de proceder: afinal, vivia neste mundo, embora, é claro, possa-se
considerar que outra linha de conduta dele fosse exigível.
Quanto ao “farisaísmo”, cabe notar, com Derrick Everett, que, na
fonte original, Parsifal vem a ser repreendido por peregrinos por não haver
estado presente em uma igreja durante anos e estar armado em plena Sexta-Feira
Santa, e é enviado a um ermitão que os peregrinos haviam acabado de visitar [ http://www.monsalvat.no/friday.htm ].
A respeitabilidade determinada pela observância da liturgia,
predominância da forma sobre a substância, a sobrevalorização do estereótipo,
embora a realidade, mesmo, o transcenda está trazida na passagem acima
referida.
Por sinal, a mesma questão da respeitabilidade não deixa de ser
colocada na película de Visconti, do que faz com que um indivíduo mereça ser
tido como “respeitável”, e, sem sombra de dúvidas, o que mais se aproxima desta
qualificação é Ciro:
“Rocco e suoi Fratelli conclui que não há utopia para além da
sociedade industrial e que naquele momento era ela que forjava os
destinos. No futuro
talvez houvesse uma possibilidade da devolução da terra ao mais jovem dos
Parondi – ainda uma criança – quando a
modernização houvesse completado
o seu trágico
e inexorável curso. A lucidez de Rosária Parondi está na sua
trágica consciência de que ela era um ser
estranho à grande
cidade, mas tal
como seu marido,
poderia não sobreviver à pobreza
se continuasse a viver no campo. Feito em capítulos, a forma de Rocco traria
esta sobreposição de ‘tempos sociais’ de cada um dos irmãos Parondi,
até concluir que o filho
que se adequava
à vida urbana
e proletária constituía o único personagem não trágico. Houve na crítica
quem sugerisse que por isso o filme devesse chamar Ciro e seus irmãos, mas houve também quem
notasse, como Zambetti
(Cineforum, 1966), que
este era o personagem menos convincente de Visconti:
no mínimo, uma expressão de que o centro do conflito na vida italiana daqueles
anos não era carregado pelo bem
inserido operário da Alfa Romeo,
mas pelo deslocado
e romântico migrante, em
desacordo com certos
valores que ficaram
para trás, mas também
com os elementos
do individualismo moderno
que não chega
a compreender. Rocco seria o personagem tipo do processo da modernização que, em
alguns momentos e para um
sujeito comum, assume
um caráter trágico, de destino
implacável. Para os que tinham clareza da possibilidade de mudar o
próprio destino, como
Ciro, a vida
se desenhava mediocremente limitada aos valores do consumo
e da família. Uma forma que, desconfiava da validade dos velhos valores
familistas da sociedade agrária mas, no mínimo, revelava também sincera
desconfiança da ‘nova civilização’ que se delineava no horizonte”
[TOLENTINO,Celia. O Fausto saudosista ou o rural no cinema brasileiro e
italiano. http://www.pucsp.br/neils/downloads/v9_artigo_tolentino.pdf ].
Mas, como dito no texto acima, Ciro, o “respeitável”, o
bem-sucedido empregado da Alfa Romeo – bem-sucedido, inclusive, porque se
insere na condição de trabalhador subordinado, bem-comportado executor das
ordens de quem tem o comando sobre o seu esforço físico e intelectual, e que,
em função disto, obtém os meios aptos a possibilitarem o acesso ao que se
destine a satisfazer às suas necessidades e às do que dele porventura dependam
– não se apresenta com a dimensão trágica que o tornaria “interessante”, porque
é justamente o que mais longe estaria do “santo”, sem, no entanto, se colocar
na condição do desajustado, do homem que caiu nas malhas do Tentador: a “vida
tranquila”, vida “com menores dificuldades” ou “sem dificuldades”, a conquista
da “respeitabilidade”, para a família Parondi, pareceria uma espécie de Santo
Graal a que somente se poderia chegar se não se enveredasse nem pela pureza de
Rocco (ao contrário do que ocorre com Parsifal, para quem a pureza é
precisamente o caminho para o Graal) nem pela marginalidade de Simone.
Mas não é ao ser humano que transmite a mensagem, e sim à
mensagem em si, que se dirige esta pequena reflexão, justamente porque o mérito
da mensagem em si não vem a ser determinado pelo ser humano que a enuncia, mas
pela ideia que nela é expressa, se válida ou inválida, tomando tal ou qual
referencial ético, se verdadeira ou falsa, a partir de sua correspondência com
os dados que se manifestassem na realidade, a sempre recordada “adequação do
intelecto à coisa” presente na contribuição da Escolástica de raiz aristotélica.
Por outras palavras, as biografias tanto de Richard Wagner
quanto de Lucchino Visconti estão muito longe de ser o que realmente importa
para o presente debate, mas sim os problemas comuns em ambas as obras
levantados, bem como os pontos particulares a cada uma delas.
A questão da possibilidade de outro mundo, não baseado no
egoísmo, integra a maior parte das utopias, embora haja, também, utopias que
enaltecem o egoísmo (a visão de um von Mises e de um Hayek, por exemplo), com o
que a caracterização do “egoísmo” como um “Mal”, como algo a ser evitado, ou
como um “Bem”, como algo a ser buscado, traduz uma preocupação de caráter
intemporal, ainda não respondida, mas que, nem por isto, deve deixar de ser
colocada.
A indagação do que seja "perdição", como o estado a
que seria vitando chegar, por prejudicial, e do que seja "redenção",
como o estado a que se almejaria chegar, como melhor do que aquele em que nos
encontramos, do que as caracterize, objetivamente, também se coloca em caráter
intemporal.
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